![]() Figura 3 - armário 3 (julho de 2004). |
|
||||||
|
|||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Diante de tal quadro, o trabalho de higienização, acondicionamento e identificação – originalmente previsto apenas para os manuscritos e impressos musicais do período monárquico – foi estendido a todos os documentos, de modo a garantir condições mínimas de conservação que permitissem à totalidade do arquivo uma maior sobrevida. Sem dúvida, pela responsabilidade que nos coube, enquanto profissionais autorizados a realizar um tratamento do arquivo depois de décadas sem nenhum tipo de intervenção desta natureza, não poderíamos limitar nossa ação a uma fração do acervo. |
|
|||||
---|---|---|---|---|---|
![]() Figura 6 - higienização dos documentos. |
![]() Figura 7 - frontispício impresso de cópia manuscrita produzida pela Imperial Copistaria de Música de Teotônio Borges Dinis. |
||||
|
|||||
A identificação dos documentos musicais no armário 4 ficou a cargo dos musicólogos André Guerra Cotta e Marcelo Campos Hazan, ao passo que o restante da documentação foi analisado, em caráter preliminar, pela pesquisadora Aline da Silva Goes, com o acompanhamento da equipe musicológica. Esta etapa permitiu-nos concluir que não havia no arquivo uma organização clara que refletisse a própria história do Cabido e da Sé-Catedral, o que nos pareceu inadequado do ponto de vista arquivístico. Depois de um estudo das datas-limite e do histórico destas instituições, decidimos estipular a Proclamação da República como marco divisor para o estabelecimento de dois diferentes fundos documentais.1 Após a proclamação, a Capela Imperial transformou-se em Catedral Metropolitana, perdendo a subvenção governamental anteriormente assegurada pelo regime de Padroado e alterando significativamente suas relações e funções institucionais. Assim, estabelecemos um quadro de arranjo estruturado de acordo com a história do Cabido e da própria Catedral, instituição a que ele diretamente se liga: Fundo Capela Real e Imperial (até 1889) e Fundo Catedral Metropolitana (1890 até o presente). Dentro de cada fundo, a documentação foi organizada em duas seções: a Seção Musical, contendo manuscritos e impressos musicais, e a Seção Documentação Administrativa, incluindo correspondência, livros administrativos, publicações, recibos e outros documentos. A partir daí, chegamos ao seguinte quadro de arranjo,2 proposto para o encaixe de toda a documentação (quadro 1). |
|||||
|
|||||
![]() Quadro 1 - Quadro de Arranjo proposto para o Arquivo. |
|||||
|
|||||
Por coerência ao escopo do projeto, originalmente restrito à Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial, o trabalho de levantamento foi realizado de forma diferenciada. Para a Seção Musical do Fundo Catedral Metropolitana, compreendendo obras recentes, em sua maioria já publicadas, foi elaborada uma listagem sumária contendo localização, título, compositor e data. Por sua vez, os documentos da Seção Documentação Administrativa do Fundo Catedral Metropolitana foram relacionados com sua localização, título, assunto ou conteúdo, estado de conservação, data e número de folhas ou páginas. O mesmo foi feito em relação ao material da Seção Documentação Administrativa do Fundo Capela Real e Imperial. Desta seção, em caráter excepcional, foram selecionados para digitalização e exibição no website aqueles documentos que se destacam por sua relevância histórica, sobretudo para a compreensão da produção musical e da atuação de músicos e compositores junto à Capela Real e Imperial. Pela mesma razão, também foram digitalizados dois documentos da Seção Documentação Administrativa do Fundo Catedral Metropolitana. Enfatizando-se o seu caráter preliminar, as três planilhas que resultaram da organização dos dados colhidos, respectivas a cada seção, foram entregues ao Arquivo do Cabido Metropolitano. Quanto à Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial, cerne deste projeto, a classificação do material levou em consideração uma distinção prática e conceitual entre unidade musical e unidade documental. A utilização desta terminologia decorre, primeiramente, da percepção de que há limitações no conceito tradicional de obra, sobretudo na tradição da música sacra luso-brasileira, que se destaca pelo alto grau com que tais “obras” são inter-complementares e as seções destas permutáveis entre si (podendo, inclusive, conquistar vida autônoma). Esta flexibilidade advém do caráter eminentemente funcional do repertório, tanto em relação à sua gênese quanto ao processo de transmissão de “obras” musicais concebidas conforme os ditames da liturgia tridentina e os gostos, hábitos e necessidades locais. A aplicação da expressão unidade musical ao invés de “obra” ou “composição” é uma forma de assinalar esta particularidade, não verificada em tradições “centrais”, tais como o repertório instrumental austro-germânico.3 Segundo, a terminologia serve para apontar uma relação não necessariamente unívoca entre a unidade musical e o seu registro físico, a unidade documental.4 Por exemplo, é possível a existência de múltiplas unidades musicais sob o mesmo suporte documental, como é o caso da unidade documental CRI-SM04, que registra as unidades musicais UM004, UM005 e UM006. As unidades documentais foram subdivididas em conjuntos homogêneos, compreendendo partituras, partes cavadas e/ou cartinas (solos anotados em partes especialmente elaboradas). A determinação dos conjuntos foi realizada de acordo com as características físicas do suporte e conforme as similaridades no processo de produção de cada documento, estabelecendo-se distinções entre caligrafias, datas, unidades musicais registradas, etc. Entretanto, algumas particularidades gráficas de certos documentos representaram um alto grau de dificuldade para o trabalho de individualização, pois se tratava, em alguns casos, de trabalho realizado não por um ou dois, como é comum, mas por vários copistas.5 Um estudo aprofundado deste trabalho colaborativo será de grande importância para a compreensão do modus operandi dos compositores e de seus colaboradores, mas também das copistarias de música fluminenses do século XIX, como é o caso da Imperial Copistaria de Música de Teotônio Borges Dinis (figura 7). Deste trabalho resultou a elaboração de uma Planilha de Unidades Musicais e outra de Unidades Documentais, sobre as quais foi estruturado este website. Após as etapas de identificação, higienização e descrição os documentos da Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial foram integralmente digitalizados, e, em seguida, individualmente entrefolhados e acondicionados em caixas de papel alcalino, especialmente desenhadas para o acervo (figuras 8 e 9). |
|
||||||
---|---|---|---|---|---|---|
![]() Figura 8 - caixa de papel alcalino para acondicionamento, ao lado de embrulho de papel ácido, anteriormente utilizado. |
![]() Figura 9 - partitura acondicionada em caixa de papel alcalino. |
|||||
|
||||||
A codificação das caixas e das imagens digitais baseia-se no arranjo dado. As caixas receberam uma numeração seqüencial dentro de cada seção, destacada em etiquetas externas que indicam também o código da unidade documental, como mostram os exemplos 1 e 2: |
||||||
|
||||||
![]() |
![]() |
|||||
Exemplo 1 - etiquetas para as caixas 001 a 093 contendo, respectivamente, as unidades documentais CRI-SM01 a CRI-SM93 da Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial. | Exemplo 2 - etiquetas das caixas na transição da Seção Musical para a Seção Documentação Administrativa do Fundo Capela Real e Imperial. | |||||
|
||||||
A numeração das caixas é seqüencial dentro de cada Fundo, mesmo passando da Seção Musical para a Seção Documentação Administrativa. Como já foi dito, apenas a documentação da Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial foi individualizada em unidades documentais. A codificação no exemplo 2 reflete este procedimento. Observe-se que os manuscritos e impressos da Seção Musical do fundo Fundo Catedral Metropolitana são pouco numerosos e foram acondicionados em apenas duas caixas. Por este motivo, a Seção Documentação Administrativa inicia-se logo na caixa Cx003 (exemplo 3). |
||||||
|
||||||
![]() Exemplo 3 - etiquetas das caixas na transição da Seção Musical para a Seção de Documentos Administrativos do Fundo Catedral Metropolitana. |
|
|||||
|
||||||
Dentro de cada caixa, cada conjunto foi envolto em cartolina, sobre a qual foi afixada etiqueta com codificação também baseada no Quadro de Arranjo, como no exemplo 4. Ao final do processo de acondicionamento, a documentação relativa ao Fundo Catedral Metropolitana foi armazenada nos armários 1 e 2, assim como os documentos referentes ao Fundo Capela Real e Imperial, nos armários 3 e 4. Noventa e cinco por cento de toda a documentação foi acondicionada, excetuando-se material muito recente e duplicado (Seção Documentação Administrativa do Fundo Catedral Metropolitana, a partir de 1950), que deverá ser objeto de intervenção futura. O foco principal do presente projeto, a Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial, foi totalmente higienizado, reorganizado e acondicionado, como mostra a figura 10. |
||||||
|
||||||
![]() Figura 10 - Seção Musical do Fundo Capela Real e Imperial, armário 4 do Arquivo do Cabido Metropolitano do Rio de Janeiro (abril de 2005). |
||||||
|
||||||
Neste DVD-ROM, portanto, pode-se visitar um acervo digital que reflete fielmente o arranjo dado, como se o pesquisador estivesse nas próprias dependências do Arquivo do Cabido Metropolitano do Rio de Janeiro. Acreditamos, assim, que o presente projeto contribuiu tanto para uma maior acessibilidade, via fac-símiles digitais, como para a conservação do acervo propriamente dito, patrimônio cultural de inestimável valor para a memória musical brasileira. |
||||||
|
||||||
1 Os conceitos de fundo e seção são aqui utilizados de acordo com a teoria arquivística, segundo a Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística – ISAD(G), do Conselho Internacional de Arquivos. Versão brasileira disponível na página do Arquivo Nacional. |
||||||
2 A respeito desta terminologia, assim como dos princípios que norteiam a elaboração de um quadro de arranjo, ver BELLOTTO (1991: p. 89). |
||||||
3 O conceito de unidade musical é relativamente recente na arquivologia musical e baseia-se no conceito de unidade musical permutável, tal como desenvolvido por CASTAGNA (2004: p. 90 e ss.). |
||||||
4 Uma unidade documental consiste em um grupo de itens documentais (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS: 2000, p. 05) que registram uma ou mais unidades musicais em comum e se complementam organicamente, em diferentes níveis, organizados cronologicamente, por copista ou impressor, por local, entre outros critérios possíveis, de acordo com as evidências fornecidas pelos próprios documentos. Assemelha-se ao que é, para a arquivística tradicional, o dossiê (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS: 2000, p. 04). |
||||||
5 Um exemplo disto é o conjunto 2 da unidade documental CRI-SM24, que mostra claramente títulos das partes e outros elementos escritos por José Mauricio Nunes Garcia, mas a cópia da música realizada por copistas diversos até o momento não identificados. |
||||||
|
||||||
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | ||||||
|
||||||
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991. 198 p. |
||||||
CASTAGNA, Paulo Augusto. Níveis de organização na música católica dos séculos XVIII e XIX. In: Anais... I Colóquio Brasileiro de Arquivologia e Edição Musical, Mariana, 18 a 20 de julho de 2003. Mariana: Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana, 2004. p. 79-104. |
||||||
COTTA, André Guerra. O tratamento da informação em acervos de manuscritos musicais brasileiros. (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000. |
||||||
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS. ISAD(G): Norma geral internacional de descrição arquivística. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2000. |
||||||
|